segunda-feira, 26 de abril de 2010

É sangue mesmo.

Amanhã faz uma semana que um homem foi morto na rua da minha casa.
Era novo na vizinhança. Não sei quem é. Talvez, ele tenha passado por mim algumas vezes, mas, eu não sei que ele passou.
A história que corre entre os vizinhos, é a de que ele foi morto pelos bandidos que roubaram seu mercadinho e o ameaçaram de morte caso os dedurasse. Coisa que ele fez.
Quando apontei na rua, vi apenas a multidão e alguns carros de polícia.
E sabe o que se encaixa nisso tudo?

Legião Urbana – Metrópole

"É sangue mesmo, não é mertiolate."
E todos querem ver
E comentar a novidade.

"Ó tão emocionante um acidente de verdade."
Estão todos satisfeitos
Com o sucesso do desastre:

"- Vai passar na televisão."

"Por gentileza, aguarde um momento.
Sem carteirinha, não tem atendimento
Carteira de trabalho assinada, sim senhor.
Olha o tumulto: façam fila por favor."

"- Todos com a documentação"

"- Quem não tem senha, não tem lugar marcado.
Eu sinto muito, mas já passa do horário.
Entendo seu problema mas não posso resolver:
É contra o regulamento, está bem aqui, pode ver."

Ordens são ordens.

"- Em todo caso já temos sua ficha.
Só falta o recibo comprovando residência.
P'ra limpar todo esse sangue, chamei a faxineira
E agora eu já vou indo senão eu perco a novela

E eu não quero ficar na mão."




Quando foi que nos tornamos isso?
Quando uma morte, COMPLETAMENTE INJUSTA, passou a ser normal?
Quantos ainda vão morrer por fazer o que é certo? Infelizmente, eu sei que serão muitos. Tem um morrendo agora inclusive.
Por que é tão emocionante um acidente, um assassinato, um evento tão trágico. Por que aquela multidão?

E depois, ainda desejam que eu veja algo bom nesse mundo.
Me desculpa, mas, quanto mais eu desvendo as minúcias do mundo. Das culturas. Das pessoas. Mais eu acho o mundo nojento. As pessoas nojentas. O Capitalismo nojento.
Porque ele é o culpado da morte do meu vizinho desconhecido. Pode acreditar. Mas ai, já é discussão pra outro post, ou uma aula de Processos Políticos (as quais eu amo!) com o Profº Oswaldo.

Nenhum comentário: